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O uso clínico de células-tronco está se tornando cada vez mais comum em diversas áreas da medicina.
Em julho passado, uma cirurgia pioneira no país utilizou essas células para auxiliar na reconstituição de tecido ósseo bucal.
O procedimento, que se destina a acelerar o processo de integração entre implante dentário e osso maxilar, foi realizado por uma equipe do Hospital São Lucas (HSL) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Os pesquisadores iniciaram os trabalhos em 2002, após estudos que indicaram a possibilidade de células-tronco mesenquimais da medula se converterem em tecido ósseo.
Depois de transformá-las, em laboratório, em células osteoblásticas (formadoras de osso), o grupo da Faculdade de Odontologia da PUCRS também obteve sucesso ao desenvolver as células sobre superfícies com colágeno (substância protéica presente em fibras de várias estruturas corporais, como pele, tendão, osso, cartilagem) e titânio (metal utilizado nos implantes dentários).
Para que as células-tronco proliferem e se especializem, é necessário que elas sejam estimuladas por fatores de crescimento. Em ambas as experiências precursoras, o fator de crescimento utilizado foi a proteína morfogênica tipo 4, um composto sintético. No caso da cirurgia, as células foram transpostas para a região bucal com fatores de crescimento não-sintéticos, provenientes de plaquetas sangüíneas do próprio paciente.
Com o auxílio de uma seringa especial, foi feita uma punção de cerca de 40 mililitros de sangue da medula óssea da crista ilíaca. No Laboratório de Biologia Molecular do HSL, a amostra passou por um processo de centrifugação e separação. Selecionadas, as células-tronco mesenquimais foram então misturadas a um composto químico para ter sobrevida de seis horas. No momento da cirurgia, o fator de crescimento de plaquetas foi misturado às celulas.
“Alcançamos os resultados esperados”, comemora o cirurgião-dentista Gilson Beltrão, que coordena as pesquisas. A expectativa é de que, após a cirurgia, o crescimento ósseo se complete em aproximadamente 90 dias; sem o uso das células mesenquimais, esse prazo costuma chegar a 270 dias.
A técnica empregada pela equipe de Beltrão tem duas finalidades possíveis: unificar osso e implante em uma mesma estrutura ou promover o crescimento do maxilar antes do implante. Beltrão lembra que, se o paciente não tiver um volume mínimo de osso na região, o implante se torna praticamente inexeqüível.
A equipe estuda também a possibilidade de transformar as mesmas células-tronco em tecido epitelial da gengiva, embora seja necessário o desenvolvimento de outras técnicas para se alcançar esse resultado.
O custo de um implante convencional diminuiu bastante nos últimos anos e pode cair ainda mais com o uso de células-tronco mesenquimais. Segundo Beltrão, o material usado não é dos mais caros, e as despesas com acompanhamento clínico devem cair com a redução no tempo de crescimento do tecido ósseo.
A equipe da PUCRS tem um objetivo ousado: chegar à constituição de dentes em laboratório a partir de células-tronco. Mas por ora ninguém se arrisca a fazer previsões sobre o tempo necessário para a realização desse feito.
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